África do Sul. Entrevista com uma Sul Africana. E teve uma mudança inesperada no meio da entrevista

Amizade entre uma sul-africana e um brasileiro
Nós no ônibus entre Joanesburgo e Durbain.

Antes de começar preciso dizer que esta entrevista foi totalmente feita de improviso. Não tivemos tempo de pensar em um roteiro e foi feita apenas com a força de vontade. Por sugestão da própria Lexiegh. Ela queria algo autêntico! A melhor forma de chegarmos a isso seria fazer assim, por um celular para gravar e pronto. A Lexiegh é essa pessoa maravilhosa que conheci em uma viagem de ônibus de mais de 7 horas e um pneu furado no meio do caminho pela África do Sul. Compartilhamos muitas aventuras e situações em que superamos ajudando um ao outro. E assim nasceu a amizade entre um brasileiro e uma sul-africana. Você pode ver o vídeo original no final deste post.

Como de costume neste blog eu terei a cor verde na fala e a Lexiegh a cor vermelha. E sem mais demora vamos a entrevista!

Rômulo: Eu estou aqui com a Lexiegh

Lexiegh: Olá!

– Nos conhecemos em um ônibus de Joburg (Johanesburgo) para Durbain e vamos fazer uma entrevista sobre a África do Sul. Sobre algumas particularidades que temos aqui. primeira pergunta:

– Tô pronta, vem

– Lexiegh, o que você acha do seu país? É um bom lugar para se viver, tem algo para melhorar, como é o governo? Coisas deste tipo.

– Eu penso que é um bom lugar para se estar, mas também acho que, como tudo na vida, sempre tem espaço para melhorar. Então quando se trata de políticas, cultura, religião, racismo, sempre tem espaço para melhorar. Mas eu amo onde nasci e aprecio isto.

– Muito bom. E as pessoas vem aqui para a África do Sul…

– Pessoas como você?

– Sim, como eu, primeiro pelo turismo, para explorar, ver os animais (num safari) e coisas do tipo. Mas eu acredito que a África do Sul vai além disso. Então gostaria de saber sua opinião sobre o Apartheid e temas relacionados. Desculpa….

Não, não, está tudo bem. Bom, nós temos o pensamento que pessoas de outros países ou outros continentes, quando pensam na África do Sul, pensam logo em animais correndo pelos caminhos. Eles não pensam que a África do Sul é sofisticada o bastante, ou liberal em alguns estados. Mas eu não os culpo, pois eles não tem esse tipo de informação. Do quanto a África do Sul tem crescido.

Então, voltando para a questão do Apartheid, há o mesmo problema aqui (desinformação). Eu penso que passamos um longo caminho, como sul-africamos desde Nelson Mandela ter sido solto da prisão. E de não ter retaliado o governo sul-africano. E isso foi já faz algum tempo. Então, esta ferida está sendo curada.

Eu não quero mentir e dizer, nós chegamos lá, mas estamos no caminho.

– Muito bem. Então eu acredito que está melhorando né?!

– Sim, estamos no caminho.

– Bom, e qual seria seu lugar favorito na África do Sul?

– A praia! Você nem precisa terminar de perguntar! A praia é meu lugar favorito!

– Mas a praia em Cape Town, ou em Durbain, qual praia?

– A praia em Durbain! Ela não é como qualquer outra praia. E tem um bom clima. No qual estamos passando agora (dezembro). Sabe, para mim não é só a praia em si. Mas nós acreditamos (as pessoas negras) que diferente das piscinas, no mar, quando as ondas vem e vão passando no seu corpo. Elas levam embora o que quer que você tenha de problemas: emocional, mental, físico, as ondas levam embora. É um jeito de se libertar. E é isso que acredito.

– Lá no Brasil, nós temos algo parecido… não é exatamente isso, não é assim tão profundo o significado. Mas os que acreditam em Iemanjá, na virada do ano pulam sete ondas e jogam uma flor ao mar. Dizem que é uma forma de garantir um bom ano novo.

– Sim, é como você falou, não é tão profundo…

Próxima pergunta.

– O que você acha sobre essa segregação entre negros e brancos?

– Eu odeio isso!

– Eu também odeio!

– E você foi uma evidência disso! A propósito, nossa viagem inteira de ônibus foi literalmente, com um viés racista. Pessoalmente eu não recomendo isso. Eu não acho que alguém deva predominar só por ser branco, índio, negro, miscelânea, ou o que quer que seja. Porque se você cortar as pessoas elas vão sangrar do mesmo jeito. Acho que a gente deve tratar as pessoas como elas gostariam de ser tratadas. Independente da cor da pele. Eu posso ser boa com você, mesmo que você não seja bom comigo. Há uma mentalidade na África do Sul, não de todos, mas de algumas pessoas. Eles pensam que eles devem ser compensados de alguma forma. Essas pessoas ainda estão segregados em suas mentes. Outros pensam assim: “eu sou melhor do que você, porque eu sou branco”. E eles estão errados.

Eu gostaria que nós nos víssemos como pessoas. Que as pessoas convivessem bem. Assim como eu e você!

– E só para complementar a resposta, eu penso que tratar as pessoas independente de cor é isso o que vai nos fazer crescer como seres humanos, a fazer um mundo melhor.

– Pessoal, se vocês estiverem assistindo isso… eu conheci esse cara HOJE!

E aqui é literalmente um exemplo do que nós estamos falando aqui!

Eu conheci ele hoje, mas ele me pareceu ser boa pessoa, harmônico, e desde então nós estamos lidando com isso, convivendo. Eu senti a energia dele e pensei… Ele é alguém com quem eu poderia conviver.

– E da mesma forma eu senti a boa energia dela e… desde então nós estamos fazendo as coisas juntos, para atravessar essas barreiras, entre negros e brancos. Nós somos mais do que isso.

Um exemplo: nós tentamos pegar um Uber para chegar até aqui, mas o aplicativo não funcionava. Então eles tentaram cobrar mais que o dobro do preço, meramente porque ela estava com um homem branco.

– É eles pensaram: “ele é branco então ele tem dinheiro”.

– Foi então que ela me explicou a situação, e eu não quis acreditar. Mas aí o aplicativo voltou a funcionar e o valor apareceu, e era menos da metade do que eles queriam nos cobrar. Então eu penso que na África do Sul (e no Brasil também) isso precisa ser melhorado. Foi então que percebi que o que Mandela começou foi bom, mas ainda não é o melhor de tudo.

– Não, de fato não é.

– E, brasileiros, se vocês vierem até a África do Sul, comprem um cartão de dados daqui. Porque ainda não tem Wifi em qualquer lugar.

– E nós tivemos que subir e descer toda a estação de ônibus de Durbain literalmente. Só por conta disso. Mas veja, nós estamos jantando agora! Eu tô jantando com alguém que eu conheci hoje!

– E nós estamos aqui só porque somos amigos, porque não vemos estas diferenças, de que alguém deva ser tratado de forma diferente por conta da cor.

– Oh, você fica tão bonito quando sorri! Ah agora está ficando ruborizado.

– Viu, é por isso que é ruim ser branco, porque você fica vermelho! Nós é que somos a pessoa de cor.

– E vocês são! Se alguém espancar vocês, vocês ficam cinza, roxos…

– E se a gente adoecer a gente fica verde.

– Com a gente você pode ficar com vergonha, pode ficar doente, pode ser espancado… nada muda, ficamos da mesma cor. E nós gostamos disso e apreciamos porque é assim que somos.

Vamos mudar essa entrevista!

– O quê?

– Espera deixa eu arrumar o meu cabelo.

– Ah e durante a viagem eles me deram um apelido no ônibus. Eles me chamavam de John, porque “Rômulo” era muito grande para eles.

– É verdade, ele era o senhor H ou John, Rômulo era muito grande.

Ok, mas deixa eu te perguntar agora. E seja sincero. O que você sabe sobre a África do Sul? Eu digo, você não veio até aqui a toa. Você deve ter querido ver alguma coisa.

– Bom, o que eu sabia sobre a África do Sul era apenas o que os rótulos diziam. Que é um país de grande diversidade de fauna e flora. Um lugar em que você tem as florestas, nas quais você pode fazer um safari, mas mudando de armas para máquinas fotográficas. Eu quero dizer, não é um safari de caçada mas de foto. E que o Apartheid havia terminado. Era isso o que eu achava até vir aqui. E que Nelson Mandela era um grande líder e havia levado a África do Sul a um outro patamar.

Mas quando eu cheguei aqui, eu não penso mais assim… Acho que tem muito mais a ver com o Brasil. Lá também estamos tentando evoluir, adaptar… E o que mais gostei da África do Sul foi a recepção. Os sul-africanos recebem você bem, mesmo se for um branquelo como eu. Eles também mantém uma boa energia na forma como fazem as coisas. E não são todos os países que tem isso. Por exemplo, se você for a alguns países na Europa eles são um pouco frios. Já no Brasil, eles convivem, fazem piadas com tudo. E talvez aqui seja um pouco assim.

– Nós amamos piadas né?!

Só mais uma pergunta e nós terminamos.

– Ai meu Deus!

– Você não pode sair por aí entrevistando as pessoas em todos os lugares e achar que ninguém vai te entrevistar. Eu vou te entrevistar agora!

– Mas eu não estava pronto para isso. Mesmo assim, vamos lá, vamos fazer isso.

– É eu sei, você nunca vai estar. Mas esse é o meu jeito dominante de ser.

Bom, se você pudesse mudar uma única coisa no mundo inteiro, não interessando de onde você é, ou onde você está, o que você mudaria?

– Eu acho que eu mudaria a fé das pessoas…

Eu acredito que todo mundo tem que ter fé em alguma coisa. Seja em Deus, seja em uma pessoa… porque ter fé é necessário.

Se a pessoa não tem fé em nada, isso pode destruí-la. Ela pode ficar deprimida, ou mesmo se matar… isso por falta de acreditar em alguma coisa. Então se eu pudesse mudar uma coisa no mundo, eu colocaria fé nele.

– Por quê? sim, eu sei você já explicou, mas eu sinto que ainda não chegamos no coração do “John”. Por quê você disse que colocaria fé em todas as pessoas? Tá e depois eu vou responder também essa última pergunta e acabamos.

–  Porque quando você tem fé em algo ou acredita em alguém, você tem uma razão para estar vivo.

– Oh, essa foi bem profunda!

– Mas é verdade! Eu não me importo se você acredita em Deus, Alá, Buda… não é isso. Eu falo de outro tipo de fé. Se você tem sonhos para realizar, uma família para unir, ou no potencial de um filho que vai crescer, então você tem motivos suficientes para ficar vivo.

– Bom, então agora eu vou responder a mesma pergunta. O que eu mudaria no mundo?

… Seria a forma como nós percebemos os outros.

– E eu preciso perguntar, por quê?

– Porque assim que você percebe que a outra pessoa é tão vulnerável quanto você, que a pessoa precisa de tanto amor, respeito quanto você precisa, então você para de olhar para a cor da pessoa e começa a perceber a beleza. De um jeito humanitário, em uma escala global. E sobre mudar a fé das pessoas em algo, eu colocaria a fé no amor. O amor cura tudo. Eu já estive em lugares bem difíceis falando sobre o lado emocional, que eu precisei de fé para poder superar. E se eu não acreditasse em um poder maior eu não teria saído de lá. Foi isso que me puxou para fora. E hoje eu posso dizer: eu estou viva.

– É, o mesmo eu posso dizer… eu já estive em lugares bem profundos, em problemas bem difíceis para mim. Talvez para outras pessoas seja bobagem, mas para mim eram coisas insuperáveis. E a fé foi o que me fez crescer e me tirou de lá. Foi como se alguém me dissesse: Ei, você ainda tem motivos para seguir em frente, para continuar vivo, para sair do buraco.

– E é isso! E é isso (mesmo tempo)

Então pessoal, se vocês estiverem assistindo (lendo) isso, por favor saibam que não há nada maior que o amor, que o respeito, e nada melhor que conhecer o “Jonh”! 😆

Ah, eu vou te dar um abraço! Porque é isso que os brasileiros fazem! haha 😆.

Bom, se você curtiu essa entrevista. Por favor segue a gente aqui. basta por seu e-mail no botão vermelho. Um abraço a todos e até o próximo post. 😎👉

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Entrevista

Rômulo Lucena Visualizar tudo →

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