Entrevista com uma brasileira, como é a experiência de um intercâmbio? – Firenze – Itália

Como é a experiência de um Intercâmbio?

Hoje vamos trazer um pouquinho de como é a experiência de estudar fora.
Para fazer isso vou contar com a ajuda da Thereza.
Bom, nos conhecemos quando ela veio à Brasília para comemorar o aniversário da irmã.
Ela participou do programa “Ciência sem Fronteiras” e teve uma grande experiência estudando e morando na Itália.
Converso hoje com a Thereza. Como costume neste blog irei alterar as cores das falas no discurso entre verde e amarelo, que são as cores da bandeira do Brasil. Vamos nessa?

Começamos com uma breve apresentação: 

– Thereza, onde você nasceu e onde mora hoje?

– Olá, primeiramente gostaria de dizer que é um imenso prazer estar compartilhando um pouquinho da minha experiência com vocês.

Eu nasci em Tapejara, uma cidade pequena do norte do Rio Grande do Sul (Brasil), hoje ela possui 20 mil habitantes. Atualmente moro em Passo Fundo, uma cidade que fica a 50 km de Tapejara e possui 200 mil habitantes.

– Por que você escolheu passar este tempo de estudos fora? 

– Eu sempre tive vontade de fazer intercâmbio durante a graduação, mas nunca idealizei muito. Porém toda vez que eu viajava eu tinha ainda mais vontade de viajar, e, por que não, morar um tempo fora? Quando eu estava na graduação surgiu o programa Ciências Sem Fronteiras, e aí foi uma questão de oportunidade, a oportunidade surgiu e eu agarrei. Sempre pensei em ter a experiência de um intercâmbio mas, com certeza eu iria buscar algum programa para ter uma bolsa e tornar esse sonho mais viável financeiramente. O Ciência sem Fronteiras – CsF caiu do céu!

- Como é a experiência de estudar fora? Vale a pena?

– Essa pergunta é um pouco mais delicada de responder, considerando o contexto em que eu estudei lá. A minha experiência de estudos relativos à graduação não foi tão boa, porém fiz alguns cursos fora da minha área que amei. Mas temos uma questão de “superpopulação” de brasileiros lá ao mesmo tempo, o edital do qual eu participei teve algumas alterações, vou explicar mais a frente, que acabaram fazendo com que muitos bolsistas fossem parar na mesma instituição ao mesmo tempo, isso acabou prejudicando a nossa experiência de estudos, porque muitas vezes não pudemos escolher as disciplinas que queríamos e tivemos que limitar o número de créditos também. Isso foi uma questão pontual da minha experiência, porém conheço pessoas que estavam em outros cursos com poucos intercambistas, outros países, e em outras cidades que conseguiram aproveitar muito mais academicamente. E, independentemente disso, foi uma experiência enriquecedora, porque eu sai da zona de conforto e fiquei imersa em um formato de ensino bem diferente do nosso. Lembrando que, como disse, fiz um curso livre por conta em uma outra instituição lá que foi muito enriquecedor.

Pessoal do Intercâmbio

- E em relação a língua, você teve alguma barreira com o  idioma?

– Eu não me considero uma pessoa com facilidade para aprender idiomas, muito pelo contrário, porém eu não acho difícil compreender o italiano, talvez pela minha origem. Ou seja, nunca senti uma grande dificuldade de comunicação, mas também não falo muito bem italiano, eu sempre me virei por lá com tudo o que precisei, mas ainda assim tenho muito a aprender, principalmente agora que estou completamente enferrujada, risos.

- O valor da bolsa do programa é suficiente para o estudante se manter no exterior?

– Sim, com certeza. Na época em que fui dava tranquilamente para pagar o aluguel, pagar o transporte, comer, comprar o que precisasse, sem desespero. Mas, claro que vida de estudante sempre é à base dos produtos com a marca do mercado, né?!

Foto do alojamento da Thereza

- Por quê a Itália?

Porque eu amo a Itália. Então, na verdade, aqui temos um “causo” para contar. Eu me inscrevi para ir para Portugal. E como fui parar na Itália? Deve ter sido o destino me mandando para onde eu queria ir. (risos) Para se inscrever no programa Ciência sem Fronteiras era preciso ter um tempo “x” de graduação já concluído. Quando eu estava nesse momento em que poderia me inscrever, olhei o edital dos países que estavam com edital aberto, Portugal era o que mais se encaixava, a Itália já tinha encerrado as inscrições. E eu pensei, sabe lá quando iria abrir de novo. Por isso resolvi garantir e me inscrever em Portugal mesmo, vai que o programa acabasse, né?! E Portugal tinha ótimas instituições da minha área. Eu me inscrevi e passei em todas as fases, porém, não sei bem até hoje o porquê dessas bolsas para Portugal terem sido canceladas, não sei se tinha muito aluno, ou qual o motivo. Mas eles não cancelaram o nosso edital, eles deram a opção de re-opção. Isso mesmo! Poderíamos optar por outros países, aí tinha uma lista de vários lugares… e lá estava a Itália 💓 óbvio que não foi difícil escolher, era meu sonho se realizando. Eu coloquei 3 cidades como opção: Milão, Florença e Roma. Fui parar em Firenze (Florença), que sonho, o berço do Renascimento, a cidade do meu coração, eu escolheria mil vezes Firenze!

- O que você mais gostou na Itália?

O ritmo da vida do italiano, a arte por todo canto, a comida maravilhosa, a qualidade dos produtos, a segurança nas ruas, o turismo super aflorado, as cidades mais para as pessoas que para os carros, as edificações na escala humana, a limpeza… ouvir sempre “buona giornata” ao sair de uma loja!

Olha, deu até vontade de visitar Florença, a Thereza fala com tanta paixão que com certeza, vou colocar no roteiro quando for a vez de visitar a Itália. Uma cidade que conheci e também me apaixonou pelos mesmos motivos foi Riga! (Letônia) que vou deixar o link aqui para quem quiser ler.

- O que você mudaria lá se pudesse?

– A burocracia. Também acho muito chato ter tanta gente se aproveitando dos lugares turísticos, pessoas de outros países querendo ganhar a vida, mas sendo desonestos, abrindo restaurantes “tipicamente italianos”, deturpando muito a cultura local. Eu mudaria também o barulho das sirenes de ambulância, é horrível.

- Como foi a aceitação da universidade que te recebeu?

Eles foram gentis, educados… mas como disse antes, o número de brasileiros lá ao mesmo tempo era surreal, não lembro com exatidão, mas era próximo a 170 pessoas, a grande maioria vindos da arquitetura. Isso fez com que eles não pudessem nos dar tanta atenção e nem muito espaço. Na verdade, em alguns cursos em que tinham poucos alunos no intercâmbio, a história foi diferente. Foi o caso de alunos da biologia, farmácia, agronomia… esses conseguiram aproveitar muito mais, no geral, fazer estágios e mais disciplinas.

- O que você recomendaria a um turista que visita a Itália pela primeira vez? Em termos de lugares, cuidados a se tomar etc.

Eu recomendo que vá de coração aberto, que entenda que o italiano não é grosso, o italiano é visceral. Eu recomendo que vá com tempo para aproveitar as cidades, para passear, para curtir as ruas, não só pra visitar os pontos turísticos freneticamente. Recomendo que vá com uma câmera com bastante espaço para foto e bastante bateria, porque as paisagens são lindas, é tanto detalhe… eu recomendo que prove as comidas locais, que busque os restaurantes mais autênticos, não os mais apelativos (que inclusive podem nem ser de italianos), que coma muita pasta, pizza, risoto, que coma gelato, (sorvete) muito gelato. Cuidado com o gelato muito exposto (torres decorativas) esse com certeza é mais caro e é para turistas, vá na gelateria da ruela mais escondida(na sorveteria da rua mais escondida). Eu recomendo que você dê uma olhada no mapa, guarde tudo e saia para desbravar, ou seja, perder-se nas ruas encantadoras da Itália. Mas também recomendo que não ande desatento, principalmente nas cidades maiores, há muito furto, cuidado redobrado em estações, filas, aglomerações em geral. Eu recomendo que você não deixe de visitar Firenze, ir à Piazzale Michelangelo, subir no Duomo. Por fim, recomendo que viaje quantas vezes for possível para lá, conheça tudo que puder e depois me conte que cidade mais gostou! Risos.

- E a volta ao Brasil como foi?

Um pouco traumática, na época eu não queria voltar, mas como eu tinha assinado um contrato, tinha que voltar. Voltei, chorei muito, senti muita saudade e ainda sinto, mas também não posso reclamar. Estava com saudade de muitas coisas aqui do Brasil, principalmente das pessoas e da minha gata.

- E o mercado de trabalho? Você sente que com essa experiência internacional tem um diferencial?

– Sim, eu não estou trabalhando na minha área de formação, mas ter um intercâmbio no currículo agrega sim, seja por questão de contatos, de formação, de experiência, de idioma.

– Vindo com toda essa experiência de vida, em qual tipo de empresa você gostaria de trabalhar?

– No meu caso, o intercâmbio me deixou uma pessoa mais informal do que eu já era, eu me identifico com empresas pequenas, em que a excelência do trabalho é mais importante do que o lucro. Eu acredito em gestão participativa, na autonomia dos colaboradores e no trabalho artesanal.

- Uma mensagem para o mundo

Estamos no finalzinho da entrevista e aqui é o espaço que costumo abrir para quem quiser deixar uma mensagem para o mundo ou algum pensamento. Algum recado a mais Thereza?

– O meu intercâmbio foi um sonho realizado, um ano de muito aprendizado, muito mesmo. Morar fora é uma experiência maravilhosa, ter contato com outra cultura, conhecer pessoas novas… Você passa a ver muita coisa com outros olhos, e isso é lindo. E o mais lindo de tudo isso é que os anos passam mas essa experiência continua sendo lembrada com muito amor, pra quem pensa que os laços que se criam em um intercâmbio são frágeis, eu sou a prova viva de que isso é balela (não é verdade). Conheci muita gente maravilhosa naquele ano, essas pessoas viram amigos, viram família. Eu mantenho contato com muita gente até hoje, já reencontrei muitos amigos nesses 6 anos pós intercâmbio. E é incrível como essas pessoas se esforçam para estarem juntas, já realizamos mais de um encontro com várias pessoas, e todo mundo se mobiliza, organiza o dinheiro e vai, é um esforço lindo para conseguirmos estar juntos novamente, e toda vez parece que nada mudou. Já foram dois encontros em São Paulo e outro no Rio de Janeiro com bastante gente (umas 20 pessoas, incluindo 2 amigos italianos). São pessoas que vão morar pra sempre no meu coração. Além disso, gostaria de deixar o meu desejo de que você faça um intercâmbio se tiver uma oportunidade, seja acadêmico ou não, seja com 18 ou seja com 81 anos, vai! Porque você não vai se arrepender. Você vai se sentir vivo como nunca, descobrindo e redescobrindo muita coisa. As pessoas voltam melhores de um intercâmbio, é como se recebessem uma vacina de empatia, e isso é lindo. No mais, agradeço o espaço e fico à disposição para qualquer dúvida ou curiosidade que tenham. Vou mandar um texto que fiz ainda quando estava no intercâmbio, acabei relendo ele e continua fazendo todo sentido pra mim. Desejo que a pandemia que estamos vivendo (COVID-19) passe e nos faça valorizar e aproveitar ainda mais todo esse mundão que temos de presente! Gratidão!

!ntercâmb1o!
Fazer um intercâmbio é estar disposto a fazer um parênteses na sua vida, com duração igual à do intercâmbio. Afinal, a tendência é você estancar uma rotina e retomá-la ao término desse período. É meio óbvio que você não vai retomar a rotina da mesma forma que ela era antes, a tendência é que as coisas mudem… na realidade, acredito que o maior benefício de um intercâmbio é exatamente as mudanças que ele causa, em forma de conhecimento cultural e de vida que ele agrega ao intercambista, é indiscutível que ao término de um intercâmbio a sua maneira de encarar as situações será muito diferente.
Tudo isso é muito lindo e muito bonito. Mas se antes de você pensar no crescimento que você terá, em todos os benefícios que essa experiência trará, você pensar nas incertezas desse parênteses na sua vida e perceber que falta coragem pra encarar incertezas eu sugiro que você não saia de casa.
Acima de tudo, 1 ano longe da sua vida habitual é ter certeza, convicção, de que nem tudo poderá estar igual quando voltar, talvez na volta ocorram surpresas desagradáveis, nunca se sabe o que se pode acontecer. Um ano longe é abrir mão das pessoas que lhe cercam esperando que elas compreendam a sua ausência, e esperando mais ainda que elas estejam lhe esperando no retorno. Talvez essa também seja uma oportunidade de passar as relações em uma peneira, em arriscar com ou sem medo de perder e no fim ver quem continuou se fazendo presente.
Mas o intercâmbio não é só uma peneira de relacionamentos, ele acaba sendo uma peneira nos aspectos gerais da vida. A tendência do ser humano se acomodar com o passar do tempo é muito grande, acabam-se fazendo coisas simplesmente por acomodação, o momento em que se interrompe aquilo que é de costume acaba se tornando uma oportunidade ótima pra retomar apenas as coisas positivas, aquilo que lhe faz bem, que lhe faz crescer e lhe motiva.
Para passar um ano longe e aproveitar esse tempo você precisa acima de tudo de coragem, de vontade, de um pouco de cara de pau, de falta de vergonha e de vontade de viver aprendendo, descobrindo, quebrando a cara, errando e acertando. E claro, tem de ser inerente a todo intercambista o espírito aventureiro e a vontade de conhecer o mundo.
Durante um intercâmbio os acontecimentos não têm os mesmos efeitos que teriam se você estivesse na sua rotina normal, tudo de ruim, de errado, de não bem-sucedido que acontece em um intercâmbio, se torna algo essencial para um grande aprendizado. Durante esse período longe de casa você se permite errar, você ri dos próprios balões, você chora de rir dos próprios balões.
No momento da volta você passará por outro teste de fogo, infelizmente terá de largar tudo que você tentou acreditar que seria longo, mas durou apenas um ano. Deixar pra trás de novo um monte de lembranças que ficarão guardadas na memória daqueles que dividiram essa experiência com você e levar consigo uma quantidade absurda de experiências, aprendizados, novidades, conhecimentos.. do tipo que só um intercambista adquire!
O mundo é prático e objetivo, é preciso ser assim para sofrer menos, mas se não sofrer um pouco a vitória fica sem graça. Então se joga no trem, conheça, visualize, arrisque, para todo erro tem uma solução, ou pelo menos um aprendizado, só não vale morrer. Mantenha-se vivo porque a vida é agora. Sinta saudade, às vezes, e se não sentir não se culpe! Há quem consiga matar a saudade com as lembranças… aprenda a viver por si, aprenda a andar no ritmo do seu contexto. Por fim, esteja ciente do que lhe espera!

Que bela mensagem!

E aqui terminamos a nossa entrevista.
Muito obrigado Thereza por compartilhar um pouco de sua experiência conosco. Espero que a leitura desta entrevista possa ajudar mais jovens que pretendem estudar no exterior e fazer um intercâmbio e perceber as mudanças que acontecem no processo. É claro que cada um terá a sua própria experiência, mas espero que esta entrevista e o recado da Thereza sirva como motivação. Um grande abraço a todos! E até a próxima.

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História

Rômulo Lucena Visualizar tudo →

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4 comentários Deixe um comentário

  1. Foi um grande prazer contar um pouquinho mais da minha experiência, sucesso ao blog e muitas viagens a todos!

  2. que texto incrível, ler a maneira como ela descreve essa experiencia de intercambio só faz eu sentir vontade de fazer as malas e partir para a viagem

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